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"Existia um hype que não era real, mas puramente especulativo. Com a crise, perdeu espaço a arte estúpida e ganhou a arte inteligente. A substância das obras está em alta."

Folha Online 17/10/2009 08:18

Há pouco mais de um ano, uma esquizofrênica sequência de eventos virou de cabeça pra baixo o mercado das artes.

Em menos de 24 horas, o banco Lehman Brothers abriu falência, arrastando o sistema financeiro para o buraco, e um leilão de obras do artista-estrela Damien Hirst somou estratosféricos 111 milhões de libras (cerca de R$ 310,5 milhões) em vendas. A euforia deu lugar a reticência.

Passado um ano do início da crise, a sétima edição da Frieze Art Fair, uma das maiores feiras do mundo, abriu na última quarta com um desafio: entender como a recessão mudou a forma de fazer arte e negócios.

"A nova tendência é comprar com os olhos, e não com os ouvidos", avalia Nicholas Logsdail, dono da galeria Lisson, em Londres. "Existia um hype que não era real, mas puramente especulativo. Com a crise, perdeu espaço a arte estúpida e ganhou a arte inteligente. A substância das obras está em alta."

Para Hayden Dunbar, diretor da galeria nova-iorquina Paul Kasmin, apesar da melhora nos negócios neste ano, ainda não é possível falar em recuperação.

"O ritmo ainda está lento. Mas agora estamos lidando com colecionadores de verdade e não com milionários russos que querem fazer mais dinheiro com arte. É um mercado mais real", explica ele, ao lado de um quadro de Andy Warhol, negociado por 385 mil libras (por volta de R$ 1,07 milhão).

Essa nova conjuntura do mercado de arte vai na contramão da herança de Warhol, mapeada na exposição "Pop Life: Art in a Material World", atualmente em cartaz na Tate Modern, em Londres.

A mostra investiga o legado do artista a partir de sua famosa frase: "Um bom negócio é a melhor arte", e reúne nomes como Hirst, Jeff Koons, Keith Haring e Takashi Murakami.

São artistas que seguiram os passos da Factory, a fábrica de obras de arte criada por Warhol, e que souberam usar a mídia para transformar seus nomes em grifes.

Agora, os tempos são outros. De acordo com a Art Market Research, empresa que monitora o setor, os preços de arte contemporânea subiram 313% entre 2006 e 2008, mas, desde então, caíram mais de 60%.

Com o estouro da bolha das artes, as maiores vítimas foram justamente artistas hipervalorizados, como o grafiteiro Banksy e o próprio Hirst. O preço de seus trabalhos despencou, segundo pesquisa da revista "ArtReview".