sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sexo, uísque e poder

Em cartaz filme que conta como os EUA apoiaram o Afeganistão

Depois de levar às telas a Guerra do Iraque, o 11 de Setembro e a operação Tempestade no Deserto, Hollywood começa a especular agora sobre as origens de suas mais recentes ações no Oriente, tentando entender uma peça-chave da geopolítica na região: o Afeganistão.

Em Jogos do Poder (Charlie Wilsons War, 2007), Mike Nichols conta com ironia como e por que os EUA interferiram no país nos últimos 30 anos.

A união de sexo e política é a tônica de Jogos do Poder, filme baseado no livro de George Crile sobre a figura verídica de Charlie Wilson - congressista americano do baixo clero que se reelegeu sucessivas vezes até meados dos anos 90, cuja atuação na surdina foi fundamental no incremento da ajuda dos Estados Unidos aos afegãos que lutaram entre 1979 e 1989 para expulsar o exército soviético do país. Para ajudar na recriação do pano de fundo da intriga política de Jogos do Poder, Nichols contou com a ajuda do roteirista Aaron Sorkin, um dos criadores do seriado The West Wing, sobre os bastidores da Casa Branca.

Quem encarna Wilson no filme é Tom Hanks, astro do cinema americano cuja presença contribui para o perfil ambíguo do protagonista, político boa-praça com autênticas preocupações patrióticas, mas que também é um incorrigível mulherengo, beberrão e cheirador de pó. O Afeganistão entra no caminho do congressista no final dos anos 1970, quando uma de suas financiadoras de campanha, a conservadora milionária texana Joanne Herring (Julia Roberts), alerta Wilson para o sofrimento dos refugiados afegãos acampados no Paquistão e para o avanço da antiga União Soviética na região. O político enxerga na situação uma oportunidade de os EUA enfrentarem indiretamente seus rivais comunistas, fornecendo armamentos eficientes às milícias afegãs.

Wilson passa então a articular clandestinamente uma grande manobra política, que inclui desde políticos americanos até líderes paquistaneses, israelenses, egípcios e sauditas. A costura do plano conta com o apoio da CIA, na figura do agente Gust Avrakotos (Philip Seymour Hoffman, indicado ao Oscar de ator coadjuvante por mais essa excelente atuação). O que os Estados Unidos não esperavam é que os rebeldes que eles apoiaram se voltariam mais tarde contra eles na figura dos talibãs, os fundamentalistas islâmicos que tomaram o poder no Afeganistão em 1996 e que apoiaram os atentados terroristas anti-americanos como o 11 de Setembro.

ROGER LERINA
O AFEGANISTÃO É POP
- No final dos anos 80, os mujahedin ("guerreiros santos") afegãos eram vistos pelo Ocidente como heróis na luta contra a invasão soviética. Em 1988, um ótimo filme de guerra produzido em Hollywood lançava um inédito olhar compreensivo, tanto para os rebeldes quanto para os soldados invasores: A Fera da Guerra, estrelado por Jason Patric (acima).
- Quase 20 anos depois, o cinema começou a revisar a participação americana nos conflitos na região. Em Leões e Cordeiros (2007), Tom Cruise interpreta um congressista americano que conta à repórter vivida por Meryl Streep um plano dos EUA para combater o terrorismo islâmico no Afeganistão.
- O Afeganistão também está nas prateleiras das livrarias: O Livreiro de Cabul (2006) inaugurou a série de títulos sobre o país - a autora, a jornalista norueguesa Asne Seierstad, esteve em Porto Alegre no ano passado falando no seminário Fronteiras do Pensamento. Entre as recentes obras sobre o tema está Eu Sou o Livreiro de Cabul (2007), em que o autor, o afegão Shah Muhammad Rais, contesta o livro de Asne.
- Outro best-seller sobre o tema é O Caçador de Pipas, romance que narra a realidade do Afeganistão sob o fundamentalismo dos talibãs ("estudantes de religião"). O livro virou filme (ao lado) dirigido por Marc Forster, ainda em cartaz na Capital.
- No final de semana passado, Táxi para a Escuridão (abaixo) levou o Oscar de documentário em longa-metragem. Na cerimônia de entrega, o diretor Alex Gibney dedicou o prêmio ao taxista afegão que foi torturado e morto pelo exército americano, tema do filme que será exibido neste domingo, às 22h, no Canal Futura.

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